INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Aspectos Importantes na Formação do Técnico
Atualmente, investido na tarefa de estudar PPCs - Projetos Pedagógicos de Cursos, de trabalhar em Análises e emissão de Pareceres, atualização e renovação de PPCs de Cursos Técnicos, na prática, constatou-se a necessidade de ampliar o jogo hermenêutico das questões subjetivas implícitas no processo. O intuito, em parte, tem sido dinamizar o entendimento de questões não tão conclusivas à luz da Legislação acerca de características importantes e não tão visíveis, as quais influenciam a formação técnica.
Nessa linha,
o artigo dialoga com educadores, com aspirantes à formação profissional em
nível técnico e com aqueles que desejam pensar o processo educativo. Tamanha é
a notoriedade pública que o curso técnico, seja na modalidade Integrada,
Concomitante ou Subsequente vem ganhando, prioridades do Projeto Pedagógico que
delimita as diretrizes do curso precisam ir ao contraditório e às vozes
conciliadoras.
Dentre
tantos pontos do PPC passíveis de arguição, é imprescindível discutir objetivos
gerais e específicos. O entendimento subjacente aos objetivos volta-se a um
ponto nevrálgico: conhecer e a fazer-se conhecer por meio da demonstração
empírica de que o Estado, cidade, ou macrorregião realmente necessita do campo
do saber dessa ou daquela área de formação. Em outras palavras, fundamentar com
proficiência se há ‘mercado’ para os profissionais da área. Antes da existência do curso, é notória a
necessidade de estudos prévios que reforcem a tese de que haverá consolidação
junto ao setor secundário da economia, do agronegócio, da indústria e serviços.
Dando corpo
a essa discussão, atualmente está em evidência no país, e em particular, no
meio acadêmico, a sigla APL. Os APLs são
os Arranjos Produtivos Locais. Os arranjos são norteadores de onde fluem as
prerrogativas que justificam a formação do Profissional em determinada área.
São variantes de temas e assuntos diferentes, e é exatamente por isso que chama
a atenção a associar aos objetivos propostos em Projetos de Cursos. Em síntese,
os objetivos podem ser entendidos como sendo aqueles que traduzem as intenções
educativas; que indicam o que se espera alcançar como consequência do processo,
e por fim, o entendimento em quê deve ser formado o profissional, tendo em
vista o perfil estabelecido no Projeto Pedagógico. Não houvesse os APLs ou
qualquer outra modalidade de colheita de dados voltados à projeção do setor
produtivo, os objetivos e a consequente formação do profissional, estariam
fadados a serem estáticos formadores de “homens robôs” acríticos e de formação
em série, nos moldes do Fordismo. Para quê criticidade! Algo muito triste de um
passado não tão remoto.
Ao
contrário, no cenário do desenvolvimento econômico, na intrepidez com que os
sinalizadores educativos indicam a necessidade de formação de profissionais
críticos, autônomos e empreendedores, sugere que os cursos, inclusive Cursos
Técnicos, se proponham a desenvolver no educando competências e habilidades que
visam atender as diferentes necessidades do mercado de trabalho. Diferentes
necessidades? Quais? Essa é a leitura que se deve ter ante as distintas opções
de formação. O Projeto Pedagógico não omite as informações mínimas a despeito
das formas, objetivos e direitos de ingresso ao curso. É nele que se apoiam as
diretrizes gerais, mas também as específicas que respondem a pergunta.
Para
amenizar essas questões, os encaminhamentos básicos dos cursos são
discriminados no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos[1], farol distante, mas
comprometido com a garantia mínima de organização curricular em todo o país.
Quanto as Competências e Habilidades, é imprescindível que as competências,
além das qualidades previstas do Ensino Médio, contemplem também aquelas
previstas no Eixo Tecnológico correspondente, conforme estabelecido no referido
Catálogo Nacional. Assim preconiza a Legislação. Como aquela (ensino médio)
mantém horizontes transdisciplinares, sugerindo que o estudante obtenha do
referido grau de ensino ampla leitura de mundo, agregando elementos das
ciências exatas e das ciências humanas, assim também essa (ensino técnico)
prevê conhecimentos que transcendam as especificidades meramente técnicas da
profissão. O Catálogo reúne, a priori, focos gerais que vão desde ética
ambiental até sustentabilidade e sociabilidade. Esse cenário é a dimensão
subjetiva que se almeja fazer entender aqui. Essas características são
necessárias ao exercício tanto da profissão, quanto ao modo de desempenho do
Técnico presumidamente preocupado e cônscio das suas responsabilidades sociais.
Ao menos é o que se espera do novo técnico que deve insurgir meio ao momento em
que o país e o mundo aspiram e comungam, entre outros, três ideais utópicos e
necessários: a capacidade de relacionamento interpessoal, o trabalho em equipe,
a capacidade de abertura à solidariedade humana em essência. Concomitantemente,
esses perfis conciliam aos propósitos do exercício da criatividade, da
invencionice e do espírito de iniciativa. O domínio dessas qualidades eleva o
status do técnico à profissional preparado para relacionar-se com a sociedade
tecnológica ávida por profissionais que garanta a competência exigida pela nova
forma de trabalho que é pautada na inteligência prática, de modo a exaurir as maiores
potencialidades do produto da construção humana. Essa não é apenas uma maneira
melodiosa, poética ou meramente sofismática de dizer do trabalho, mas uma
maneira de desmistificar a ideia escravocrata do serviço. O trabalho quando
realçado com a inspiração, o talento, o saber-fazer, cria novo sentido e rompe
com o rótulo de operacionalização, apenas. O sujeito torna-se participante
ativo no processo da construção. A coisa produzida passa de produto à criação.
Com efeito, essa transformação se dá solidariamente através de pessoas e não de
empregados.
Esse sentido
é o que preconiza a LDB – Leis de Diretrizes e Bases. Esses são os
profissionais novos e engajados em um novo ethos cultural, formado nos
Institutos Federais de Ciência e Tecnologia em todo o território nacional.
De modo
especial, a associação das Habilidades junto as Competências, uma vez
implantadas, levará em conta, não somente os conhecimentos formais, mas a toda
gama de aprendizagens auto interiorizadas advindas das experiências vividas, as
quais constituem a subjetividade singular da pessoa, agregando valores que
coadunam com a estética da sensibilidade. Tudo isso tem a ver com a proposta
dos Institutos Federais, com a
organização curricular dos cursos existentes, com o projeto de curso, mas deve
também estar presente em qualquer instituição que se proponha, segundo o olhar
desse artigo, a formar profissionais nesse nível de qualificação.
Tudo isso
deve produzir e informar quanto à contextualização do conhecimento. Envolve,
além da contextualização em si, a incorporação da interdisciplinaridade, da
transdisciplinaridade, da prática, do fazer pedagógico. A proposta da natureza
epistemológica está intimamente relacionada ao modus operandi em que se dá a
passagem entre os saberes de um componente a outros saberes pertencentes ao
mesmo núcleo e a itinerário de núcleos diferentes; a componentes da mesma
esfera, ciclo ou campo do saber e à mescla de tudo isso. Enfim, o enfoque
pluralista do conhecimento converge ao real significado da transcendência entre
conjuntos de componentes distintos, caracterizando a intenção Transdisciplinar.
Em Nicolau (1999), o prefixo “Trans.” indica a Transdisciplinaridade, que na
prática, diz respeito ao que está, ao mesmo tempo entre as disciplinas, através
das diferentes disciplinas, e além de todas as disciplinas. Entendendo o autor,
o objetivo é a compreensão do mundo presente, e um dos imperativos é a unidade
do conhecimento.
É como dizer
que todas as disciplinas precisam, por exemplo, contemplar a cultura e História
afro-brasileira, africana e indígena; o estatuto do idoso; a responsabilidade
ambiental e educação especial, mantendo o tom Interdisciplinar. Aliás, a práxis
da Trans, é premente na RESOLUÇÃO Nº 6 da Câmara de Educação Básica, de
Dezembro de 2012:
(...) que
estes cursos devem atender às diretrizes e normas nacionais definidas para a
modalidade específica, tais como Educação de Jovens e Adultos, Educação do
Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, educação de
pessoas em regime de acolhimento ou internação e em regime de privação de
liberdade, Educação Especial e Educação a distância. (...) o curso deve
contemplar o reconhecimento das identidades de gênero e étnicorraciais, assim
como dos povos indígenas, quilombolas e populações do campo (...).
Espera-se,
com base na Resolução, nas manifestações da sociedade, nos discursos
acalorados, e nessa dimensão, que a possibilidade de organização curricular,
atendendo distintos itinerários formativos, em função da estrutura sócio
ocupacional e tecnológica consonantes com as políticas públicas indutoras, e
aos arranjos sócio produtivos e culturais locais, que aconteça em larga escala
a compreensão da unidade no mundo contemporâneo. Esse é o entendimento
subjacente à Organização Curricular como um todo, aos Objetivos Gerais e aos Objetivos Específicos e respectivos desdobramentos destes. Esse é o
entendimento do artigo.
Abraços
educativos,
Wilson Barbosa
-Filósofo Clínico
Registro Profissional - 0585 W
-Esp. em Tecnologias na Educação
-Técnico em Assuntos Educacionais
Pró-Reitoria de Ensino
Pró-Reitoria de Ensino
EAD - Educação a Distância
IFTO - Instituto Federal do Tocantins - Palmas
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