segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Por Wilson Barbosa

INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Aspectos Importantes na Formação do Técnico

Atualmente, investido na tarefa de estudar PPCs - Projetos Pedagógicos de Cursos, de trabalhar em Análises e emissão de Pareceres, atualização e renovação de PPCs de Cursos Técnicos, na prática, constatou-se a necessidade de ampliar o jogo hermenêutico das questões subjetivas implícitas no processo. O intuito, em parte, tem sido dinamizar o entendimento de questões não tão conclusivas à luz da Legislação acerca de características importantes e não tão visíveis, as quais influenciam a formação técnica.
Nessa linha, o artigo dialoga com educadores, com aspirantes à formação profissional em nível técnico e com aqueles que desejam pensar o processo educativo. Tamanha é a notoriedade pública que o curso técnico, seja na modalidade Integrada, Concomitante ou Subsequente vem ganhando, prioridades do Projeto Pedagógico que delimita as diretrizes do curso precisam ir ao contraditório e às vozes conciliadoras.
Dentre tantos pontos do PPC passíveis de arguição, é imprescindível discutir objetivos gerais e específicos. O entendimento subjacente aos objetivos volta-se a um ponto nevrálgico: conhecer e a fazer-se conhecer por meio da demonstração empírica de que o Estado, cidade, ou macrorregião realmente necessita do campo do saber dessa ou daquela área de formação. Em outras palavras, fundamentar com proficiência se há ‘mercado’ para os profissionais da área.  Antes da existência do curso, é notória a necessidade de estudos prévios que reforcem a tese de que haverá consolidação junto ao setor secundário da economia, do agronegócio, da indústria e serviços.
Dando corpo a essa discussão, atualmente está em evidência no país, e em particular, no meio acadêmico, a sigla APL.  Os APLs são os Arranjos Produtivos Locais. Os arranjos são norteadores de onde fluem as prerrogativas que justificam a formação do Profissional em determinada área. São variantes de temas e assuntos diferentes, e é exatamente por isso que chama a atenção a associar aos objetivos propostos em Projetos de Cursos. Em síntese, os objetivos podem ser entendidos como sendo aqueles que traduzem as intenções educativas; que indicam o que se espera alcançar como consequência do processo, e por fim, o entendimento em quê deve ser formado o profissional, tendo em vista o perfil estabelecido no Projeto Pedagógico. Não houvesse os APLs ou qualquer outra modalidade de colheita de dados voltados à projeção do setor produtivo, os objetivos e a consequente formação do profissional, estariam fadados a serem estáticos formadores de “homens robôs” acríticos e de formação em série, nos moldes do Fordismo. Para quê criticidade! Algo muito triste de um passado não tão remoto.
Ao contrário, no cenário do desenvolvimento econômico, na intrepidez com que os sinalizadores educativos indicam a necessidade de formação de profissionais críticos, autônomos e empreendedores, sugere que os cursos, inclusive Cursos Técnicos, se proponham a desenvolver no educando competências e habilidades que visam atender as diferentes necessidades do mercado de trabalho. Diferentes necessidades? Quais? Essa é a leitura que se deve ter ante as distintas opções de formação. O Projeto Pedagógico não omite as informações mínimas a despeito das formas, objetivos e direitos de ingresso ao curso. É nele que se apoiam as diretrizes gerais, mas também as específicas que respondem a pergunta. 
Para amenizar essas questões, os encaminhamentos básicos dos cursos são discriminados no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos[1], farol distante, mas comprometido com a garantia mínima de organização curricular em todo o país. Quanto as Competências e Habilidades, é imprescindível que as competências, além das qualidades previstas do Ensino Médio, contemplem também aquelas previstas no Eixo Tecnológico correspondente, conforme estabelecido no referido Catálogo Nacional. Assim preconiza a Legislação. Como aquela (ensino médio) mantém horizontes transdisciplinares, sugerindo que o estudante obtenha do referido grau de ensino ampla leitura de mundo, agregando elementos das ciências exatas e das ciências humanas, assim também essa (ensino técnico) prevê conhecimentos que transcendam as especificidades meramente técnicas da profissão. O Catálogo reúne, a priori, focos gerais que vão desde ética ambiental até sustentabilidade e sociabilidade. Esse cenário é a dimensão subjetiva que se almeja fazer entender aqui. Essas características são necessárias ao exercício tanto da profissão, quanto ao modo de desempenho do Técnico presumidamente preocupado e cônscio das suas responsabilidades sociais. Ao menos é o que se espera do novo técnico que deve insurgir meio ao momento em que o país e o mundo aspiram e comungam, entre outros, três ideais utópicos e necessários: a capacidade de relacionamento interpessoal, o trabalho em equipe, a capacidade de abertura à solidariedade humana em essência. Concomitantemente, esses perfis conciliam aos propósitos do exercício da criatividade, da invencionice e do espírito de iniciativa. O domínio dessas qualidades eleva o status do técnico à profissional preparado para relacionar-se com a sociedade tecnológica ávida por profissionais que garanta a competência exigida pela nova forma de trabalho que é pautada na inteligência prática, de modo a exaurir as maiores potencialidades do produto da construção humana. Essa não é apenas uma maneira melodiosa, poética ou meramente sofismática de dizer do trabalho, mas uma maneira de desmistificar a ideia escravocrata do serviço. O trabalho quando realçado com a inspiração, o talento, o saber-fazer, cria novo sentido e rompe com o rótulo de operacionalização, apenas. O sujeito torna-se participante ativo no processo da construção. A coisa produzida passa de produto à criação. Com efeito, essa transformação se dá solidariamente através de pessoas e não de empregados.
Esse sentido é o que preconiza a LDB – Leis de Diretrizes e Bases. Esses são os profissionais novos e engajados em um novo ethos cultural, formado nos Institutos Federais de Ciência e Tecnologia em todo o território nacional.
De modo especial, a associação das Habilidades junto as Competências, uma vez implantadas, levará em conta, não somente os conhecimentos formais, mas a toda gama de aprendizagens auto interiorizadas advindas das experiências vividas, as quais constituem a subjetividade singular da pessoa, agregando valores que coadunam com a estética da sensibilidade. Tudo isso tem a ver com a proposta dos Institutos Federais,  com a organização curricular dos cursos existentes, com o projeto de curso, mas deve também estar presente em qualquer instituição que se proponha, segundo o olhar desse artigo, a formar profissionais nesse nível de qualificação.
Tudo isso deve produzir e informar quanto à contextualização do conhecimento. Envolve, além da contextualização em si, a incorporação da interdisciplinaridade, da transdisciplinaridade, da prática, do fazer pedagógico. A proposta da natureza epistemológica está intimamente relacionada ao modus operandi em que se dá a passagem entre os saberes de um componente a outros saberes pertencentes ao mesmo núcleo e a itinerário de núcleos diferentes; a componentes da mesma esfera, ciclo ou campo do saber e à mescla de tudo isso. Enfim, o enfoque pluralista do conhecimento converge ao real significado da transcendência entre conjuntos de componentes distintos, caracterizando a intenção Transdisciplinar. Em Nicolau (1999), o prefixo “Trans.” indica a Transdisciplinaridade, que na prática, diz respeito ao que está, ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas, e além de todas as disciplinas. Entendendo o autor, o objetivo é a compreensão do mundo presente, e um dos imperativos é a unidade do conhecimento.
É como dizer que todas as disciplinas precisam, por exemplo, contemplar a cultura e História afro-brasileira, africana e indígena; o estatuto do idoso; a responsabilidade ambiental e educação especial, mantendo o tom Interdisciplinar. Aliás, a práxis da Trans, é premente na RESOLUÇÃO Nº 6 da Câmara de Educação Básica, de Dezembro de 2012:

(...) que estes cursos devem atender às diretrizes e normas nacionais definidas para a modalidade específica, tais como Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, educação de pessoas em regime de acolhimento ou internação e em regime de privação de liberdade, Educação Especial e Educação a distância. (...) o curso deve contemplar o reconhecimento das identidades de gênero e étnicorraciais, assim como dos povos indígenas, quilombolas e populações do campo (...).

Espera-se, com base na Resolução, nas manifestações da sociedade, nos discursos acalorados, e nessa dimensão, que a possibilidade de organização curricular, atendendo distintos itinerários formativos, em função da estrutura sócio ocupacional e tecnológica consonantes com as políticas públicas indutoras, e aos arranjos sócio produtivos e culturais locais, que aconteça em larga escala a compreensão da unidade no mundo contemporâneo. Esse é o entendimento subjacente à Organização Curricular como um todo, aos Objetivos Gerais e aos Objetivos Específicos e respectivos desdobramentos destes. Esse é o entendimento do artigo.


Abraços educativos,

Wilson Barbosa
-Filósofo Clínico
 Registro Profissional - 0585 W
-Esp. em Tecnologias na Educação
-Técnico em Assuntos Educacionais
 Pró-Reitoria de Ensino
 EAD - Educação a Distância
IFTO - Instituto Federal do Tocantins - Palmas

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Por Wilson Barbosa

COMO EXPLICAR ALTAS HABILIDADES PRESENTE EM ALGUNS TIPOS DE TRANSTORNOS
Minha Impressão sobre o Problema

Nota
O artigo a seguir é uma resenha construída a partir de socialização da temática maior:  Práticas Inclusivas, presente no Componente Curricular TGD – Transtornos Globais de Desenvolvimento do curso de Extensão em Educação Inclusiva oferecido pelo IFB – Instituto Federal de Brasília-2012


Dentro do complexo da associação de uma ou mais característica em TGD - Transtornos Globais de Desenvolvimento, mesmo quando acrescido de elementos constitutivos que o caracteriza como fenômeno (altas habilidades, intuição aguçada, outros), invariavelmente comprometem, na maioria dos casos, a capacidade de interação do sujeito. Entretanto, como relatado algumas vezes em revistas especializadas e até mesmo na mídia televisiva, e o é publicitado na mídia exatamente devido a que a aparência sugere um dado fenomenológico, o qual a marca é agregar situações, impressões ou fatos observáveis que excedem a compreensão científica, e ainda, nesse caso, por expor eventos temporários inexplicáveis na acepção médica-comportamental. Nesse e em casos correlatos, o entendimento é que deve ser prestada atenção a tais fatos surpreendentes, mas não em demasia a ponto de sobrepor a necessidade de atenção, estudos e descobertas que promovam o aumento na qualidade de vida da pessoa com algum tipo de Transtorno. Com isso há que se dizer que a pessoa enquanto pessoa é maior do que o fato extraordinário por ela apresentado (como em caso de notória publicidade em distintos veículos de comunicação, associado a Síndrome de Asperger).
Nesse sentido, do ponto de vista terapêutico vale buscar eventuais causas que ocupam o papel de “atrapalho” no desenvolvimento social do individuo. Por mais contraditório que pareça, fatos extraordinários associados a Altas Habilidades, no sentido usual da palavra, podem ser exatamente o motivo de segregação que impele a pessoa ao afastamento social.
De modo amplo, pessoas com down, asperger, outros, parecem deslocarem-se do plano lógico, imediato, concreto e vagarem-se em Ideias Complexas (abstrações). Como possibilidade de interação, nesse caso, na ótica psico-clínica, é necessário afastar-se da tentativa inútil de “conectá-lo” ao logicismo formal e buscar um meio de interação aonde a pessoa se encontra. Contudo, para tal procedimento, faz necessário entender o quanto e se isso faz sentido para ela. Trazê-la ‘para casa’, se necessário, só a partir de um segundo momento.
Essa hipotética proposta clínica-pedagógica não está aqui sugerida aleatoriamente, ela constitui parte do trabalho desenvolvido junto a profissionais por todo o país especialistas em Filosofia Clínica, bem como em outras áreas das psicologias. Por ser um caso hipotético, a hipótese apresentada é apenas uma entre incontáveis outras possibilidades cuja pessoa com prognóstico adequado ajusta-se, caso a caso, as demandas das suas particularidades existenciais. Evidentemente não é possível esmiuçar todas as hipóteses em potencial dado a deslumbrante multiplicidade e complexidade que remonta a Estrutura que é a pessoa em si. A linha do texto, todavia, segue na direção da hipótese sugerida no intuito de dar forma, estrutura e entendimento à ideia que busca configurar um caso específico.
A resposta para o título do artigo talvez não venha a ser a mais esperada, porque o foco não está, necessariamente, no entendimento de ações surpreendentes apresentadas por pessoas que apresentam um Transtorno, mas no modo como esses fatos são ou não representativos e determinantes na qualidade de vida dessas pessoas, embora possa haver variações quanto aos interesses, desde que visualizada tal relevância no cuidado do caso.
A bem da verdade, um texto curto não torna suficiente o entendimento do problema, menos ainda aponta ações práticas ao leitor, mas sinaliza a identificação de situações a que sejam necessários encaminhamentos à profissionais afins.

Inclusão: Mitos e desafios para o sistema de ensino

Em textos relacionados ao assunto, muitas vezes estes se anunciam apresentando pontos que são rotulados de alguma forma e posteriormente mitificados. Quanto a isso a questão é ampla e não se esgota, mas suscita uma polêmica: as bases norteadoras para classificar uma determinada informação por mito e outra por informação verdadeira, não seriam em si mesmas o fomento da criação de um mito novo? Reflita! Está intrínseca ai uma questão eminentemente filosófica.
Na livre expressão do pensamento, discordo, por exemplo, da mitificação da seguinte doxa socialmente estabelecida:

*MITO
O fato da escola não estar atendendo alunos com deficiências, se dá pelo despreparo dos seus professores para esse fim;

Assim como a singularidade de cada criança com Transtorno precisa ser entendida sob a ótica de um caleidoscópio (conceba-se a organização do ensino em diversas configurações, não mais estáticas como no modelo integrativo, mas sim em função das necessidades do aluno, o ensino se reorganiza para dar repostas que promovam acesso ao desenvolvimento)[1], assim também a realidade está em devir, em desdobramentos sempre, e então a contrapartida não deve ser menos verdadeira. Supõe-se que em situações específicas, o despreparo de professores pode ser causa do não atendimento de alunos com Transtorno e/ou deficiência. Na linha da Lógica e da Forma, conclui-se que se houver uma única escola a qual esse motivo não seja verdadeiro, descaracteriza a afirmativa. Para que fique claro, questiona-se se em meio a tanta diversidade (subjetividade dos sujeitos agentes da escola), será que não haveria mesmo escolas que prestam bom atendimento mesmo com a falta de qualificação de docentes e de toda a comunidade escolar para lidar nessa área? Claro que sim, mas também existe o contrário. Isso é uma verdade, inclusive uma verdade em maior proporção, concorda-se.
Quando o homem volta o olhar ao que não pode ser mensurado do ponto de vista estritamente racional, cria-se um terreno muito árido e delicado para precisar fatos.
Um problema frequente e divergente é quanto a que tipo de escola essa criança com NE deve frequentar:

(...) Que as classes e escolas especiais seriam o lugar ideal para atendimento à clientela com necessidades especiais, pois assim não seriam discriminados e marginalizados, podendo haver perfeita integração com seus pares. (?)

Isso pode ser causa de discussões mais aprofundadas. Uma criança portadora de algum tipo de necessidade não se resume apenas a essas necessidades. O que isso quer dizer? Quer dizer que essa criança precisa ser entendida para além das necessidades especiais em particular. Depreende-se desse conceito que buscar universalizar os termos/propostas é incorrer em riscos de mesmo peso e mesma medida. Afirmar que todas as crianças deveriam ser atendidas em salas comuns é tão igual quanto o inverso. E esse perigo não decorre desse ou daquele grau de dificuldade encontrada na criança que vivencia algum Transtorno, mas também e principalmente, por outros elementos os quais transcendem o problema do Transtorno. É preciso um trabalho de varredura intelectiva na pessoa, a saber, reconhecer o melhor modo como essa pessoa se relaciona com o meio, consigo mesma, com as coisas, com o mundo. É necessário estudos preliminares e individualizados. Diante disso significa que é possível situações em que escolas especiais existam e produzam bons frutos, entretanto, bons frutos nos casos em que a escola esteja para as necessidades e não as necessidades para a escola. O fato, por outro lado, alia-se à ideia de que não é possível promoção humana a partir de segregamentos travestidos de padrões de atendimento, antes, a humanização se faz na troca de informação, no ir e vir ao plano existencial um do outro. Se os planos existenciais não são construídos nos moldes das formas convencionais conforme critérios de sociedade, não deixam de serem planos existenciais, apenas vibram em outro lugar.
A história da humanidade tem demonstrado que normalmente valores, ideias, técnicas e pensamentos inovadores são ‘mitificados’ de vieses escusos. Desde a entrada do Renascimento a qual, entre outras coisas, propunha o re-nascimento-consciência,  em detrimento da baixa idade média até os dias atuais, existe o confronto e o contraditório. Numa esfera maior, esses ideais abstraídos da junção positivo x negativo, fomentam descobertas e diluem nuvens pardas que impedem a visão completa. No contexto escola, os cuidados da instituição, da sociedade e da família para com as crianças com Transtornos, não seria diferente. É algo que leva tempo, às vezes gerações, mas caminha sempre em direção à igualdade, seja através do trabalho em escolas especiais, seja em outro tipo de escola onde haja dedicação e esmero do mediador do conhecimento, o professor.
Algo de difícil contextualização escrita, mas de possível entendimento na prática, especialmente quando há vontade política, dedicação docente, humildade frente aos mistérios e interseção entre os grupos e entre os pares balizado na solidariedade e no amor.

 Wilson Barbosa
-Filósofo Clínico
 Registro Profissional - 0585 W
-Esp. em Tecnologias na Educação
-Técnico em Assuntos Educacionais
 Pró-Reitoria de Ensino
 EAD - Educação a Distância
IFTO - Instituto Federal do Tocantins - Palmas

Referência
INSTITUTO FEDERAL DE BRASILIA, PROFEI – Curso de Extensão em Educação Inclusiva – TGD – Transtornos Globais de Desenvolvimento, Biblioteca Virtual, 2012.



[1] Material encontrado em texto-base postado na Biblioteca virtual do curso supracitado.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Por Wilson Barbosa


A ORIGEM DAS IDEIAS

Uma Derivação dos Conceitos



A partir de uma conversa com um grande amigo, onde carinhosamente reclamo seu 'excessivo' pragmatismo, mecanismo intelectivo que usa para decidir as demandas da sua vida para quase qualquer coisa, veio o desejo de descobrir nesse texto o oposto dessa práxis de exercitar o conhecimento e a experiência com o mundo real.

Ter uma consciência pragmática, a princípio, não constitui algo certo ou errado, ao menos não do ponto de vista das variantes epistemológicas, algo tão mencionado em artigos anteriores. Quem pode dizer que é certo ou errado ter uma experiência de vida tão pragmatica a partir da mais insignificante questão; desde o último fio de cabelo da cabeça às pesquisas mais avançadas das academias? Haveria mesmo certo ou errado?

Assim como não há certo ou errado em ver e sentir o mundo dessa maneira, assim também as derivações das derivações das ideias podem perfeitamente ser de igual modo, perfeitas! Dependendo, todavia, se olho o mundo através de uma perspectiva schopenhaueriana. Feitas essas considerações, vamos à viagem!!!

Minha alma cria rotinas que dão corpo e cor à meus desejos. Desejos ocultos ou claros como a luz do dia, por isso a importância platônica das ideias. Verdade que os céticos das perspectivas ilustradas serão intuitivamente aristotélicos, contrário ao inatismo preponderante dos discursos de Platão, não faz mal!

As ideias neoplatônicas parafraseadas não são para serem acreditadas, antes, degustadas por algumas poucas mentes que trilham por ai as marginais das grandes cidades. Para ele, Platão, e não para mim, o mundo que nós antes mesmo de nascer, passamos, passamos para ter as ideias assimiladas em nossas mentes. Esse é o mundo intangível. Esse mundo intangível do Filósofo certamente provocava cócegas de raiva na alma do seu discípulo fiel, Aristóteles. Feito mais essas considerações, agora de natureza pretensamente filosóficas, vamos ao segundo plano agora mais alto.

Na natureza fora dos sentidos, no sentido de tradução enquanto atividade da alma, há uma viagem quase imaculada por universos onde quase tudo é possível. Porque quase tudo e não tudo? Porque há regras com relação a alguns fenômenos acordados com o corpo, objeto quase ladainha no Organon de Aristóteles: Substância, Tempo, Espaço e por ai em diante. Obviamente elementos não próprios da alma, mas ao corpo!

Nesse teor e nessa direção, cumpre elevar o pensamento para além Lógica. Na Lógica, nem tudo é tão perfeitinho como aponta os sinais encontrados na natureza das coisas, segundo quer o rigor do pensamento:

-Todo homem bom é ético;
-Juan e Sebastian são homens bons;
-Logo, Sebastian  e Juan são éticos. Mas...Será?

Nem tudo que deriva da Lógica em situações complexas conciliam com o propósito esperado! Abrindo vistas para horizontes não passíveis a razão, para a divagação da alma não há senão ou será, mas apenas o posso e o quero. Nessa perspectiva, entoa referência a ligeira conotação da ideia consensual do entendimento comum da frase “ponto de vista” que, em verdade, é apenas a vista de alguém a partir de algum ponto. 
Acredite...há outros pontos a partir do qual é possível enxergar um ponto!

Que seria de nós mortais sem o largo espaço do Ser e o Nada de Sartre? Que seria do homem sem a abrangência do foco que define a consciência como transcendente? Seria necessário um reduto desgastante de informações para exercitarmos a consciência racional. Aliás, racional até que ponto? Sartre já anunciara algo que tornou-se até frases de efeito: "O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós”. A arquetípica do racionalismo e do pragmatismo tem demonstrado o que fazem de nós na sociedade moderna, ou não?

A boa notícia é o que vem agora, e não é autoajuda, é apenas a anunciada realidade do intangível. Mas antes, uma pergunta: o que é a realidade? Como defini-la em essência? Há pelo menos duas posições aceitas:

  • Algo que possa ser medido, metrificado por parâmetros incontestáveis com o uso da contradição;
  • Do Latim (simplificado) tudo o que existe!

Tudo o que existe? Se essa posição é universal, abre espaço a pensar como saber se as realidades abstratas podem realmente não existir para aqueles que afirmam  senti-las. Afinal sentem, logo, se sentem, existe. Cogito, ergo sum : Penso, logo existo. Algo bem ao gosto de Descartes. Algo a se pensar!!!

Feitas as conjeturas de; vem o que anunciara por boa notícia: A alma, mundo das ideias de Platão, cria realidades que são próprias da alma... e se lá são criadas, no que conheço como “aqui e agora” só dependo de aceitar, apropriar, aproveitar essas realidades que ela, a alma, gentilmente traz à mim, e a traz tão bem ajustada à minha realidade própria. Isso é mais que surreal, mais que metafísico, mais que emotivo. Você pode esperar também, você também pode aproveitar as realidades da alma!

Então devo eu ficar inerte à realidade sensível das coisas tal a conheço? Deveria eu ficar 'congelado' sem fazer nada até que tudo aconteça? - Quem quer viver a morte em vida, é viver o ócio e a inércia. Mas não é o Ócio de Platão, esse era destorcido.

No início parafraseamos o inatismo platônico, e enquanto derivações desse inatismo, chegamos ao conceito da realidade criada a partir da alma, agora, para arrematar o abstratismo e dar corpo à realidade, achamos por bem a sugestão de deixar a apropriação do entendimento da incorporação desse abstratismo à sabedoria e ao conhecimento popular que ocorre no correr dos tempos. Mas sugerimos para agora que ter ideias é construir novos universos e riquezas; que é importante ter ideias e deixá-las simplesmente ser; que é importante deixá-las criarem corpo e existir. Sugerimos que ideias provoca mudanças! Até mesmo o mundo corporativo comunga parte disso dando generosa ênfase a importância da ideia para o desenvolvimento de gente e da empresa.

Ter uma ideia e não prendê-la eleva o espírito, sara pessoas, faz o homem rico, cria soluções científicas, instiga o firmamento Lógico do tempo e do espaço. Isso é permitir a alma criar conteúdo para a ideia e materializá-la para a razão. É aqui, e simplesmente aqui nessa esfera, que a maioria de nós a conhecemos. Ao se chegar a esse ponto costuma-se dizer: Puxa, que coisa, vejam todos, essa ideia tem mesmo sentido, e ela pode ser mensurada e provada. Nossa, essa ideia é mesmo uma revolução!

Ao leitor, deixe a ideia voar e ir!

*Ah, é preciso dizer que a derivação dos discursos originais é tão imensa, que faz apenas referência quase invisível à conversa dos Mestres Platão e Aristóteles.


Um Afetuoso Abraço,
Wilson Barbosa
-Filósofo Clínico
-Esp. em Tecnologias na Educação
-Técnico em Assuntos Educacionais
Pró-Reitoria de Ensino
EAD - Educação a Distância
IFTO - Instituto Federal do Tocantins - Palmas
 




quinta-feira, 2 de maio de 2013

Por Wilson Barbosa


O SERVIÇO PÚBLICO COM VISTAS AO EMPREENDEDORISMO

Pensando no setor público, a melhor forma para o desenvolvimento da instituição, incluindo a perspectiva de empreendedorismo, eficácia e eficiência em prol da sociedade, é aquela cuja administração subjugue o formalismo excessivo, o que não figura infringir Leis e respectivos ordenamentos, mas que a política interna permita os servidores mergulharem profundamente em um ambiente criativo. Uma Gestão democrática que inspire a performasse para esse ambiente não talha iniciativas criadoras, arrojadas e desafiadoras, não usurpa subliminarmente ideias e projetos, tampouco castra mentes que brilham. Incrível que pareça essas situações existem em demasia especialmente quando da direção de cargos de 'pequeno vulto', isto é, esferas administrativas medianas, bem mais do que em altos escalões.

Em minorias, e ainda bem que seja nas minorias, coordenações e gerências eivadas de vícios, sobrepõem a criatividade impondo a “ordem”, confinando pessoas sob o clichê generalizado de exercerem com zelo as atribuições do cargo, mas contudo, em casos específicos, não tem anuência do bom senso e em certos casos, da ética. Normalmente esse trâmite se dá em situações subjetivas difíceis e pouco mensuráveis. Outras vezes há casos de juízos onde há dois pesos e duas medidas, questões tão presentes e comentados em forma de murmúrios e queixas de corredores.

De modo geral, esses são problemas crônicos, fidedignos de críticas sindicais e de demais interessados. O patamar autoritário circundante ao legado de tantas chefias para pouca demanda acaba por ferir a disposição do profissional dar seu contributo para o pleno desenvolvimento de pessoas, algo maior dentro dos limites de quaisquer dos Poderes.

Essa hipótese, a saber, necessidade de Gestão Empreendedora, principalmente em gente, é largamente demonstrada em forma de palestras, artigos, teses de doutorado e também através de outras formas de verdade por aproximação, contingência e semelhança. Essa última, por ser menos explorada, é atenção desse texto ora em curso. Na estética literária, nos mais distintos gêneros textuais há a promoção de ideias que contemplam o que é verdadeiramente empreender e permitir que o outro construa em equipe, uma postura empreendedora. Um protagonista de ideias revolucionárias acerca desse assunto, cuja vida é sinônimo de alteridade e empreendimento em pessoas, pode ser abstraído do discurso de Richard Bach. Autor americano com obras traduzidas para o Português - referência em essência do que é empreender buscando espaços criativos da alma. O autor não é associado ao conceito academicista de empreendedorismo, entretanto, é exímio na arte da vida para si mesmo e para o outro no quesito pro-jetar-se rumo à liberdade de ser, criar e viver. Àqueles que tiverem curiosidade, podem conferir o que fica subentendido em uma de suas obras: ILUSÕES – As Aventuras de um Messias Indeciso. Ali há cousas que as corporações e instituições só agora vêm traduzindo em discurso acadêmico, formatado em ciclos de conceitos fundamentais sobre o tema. A bem da verdade, na academia, tudo ou quase tudo de empreendedorismo, ainda um tanto quanto propedêutico. Àqueles que puderem ter entendimento, entendam!

As instituições significativas que movimentam a economia do país – estenda-se o exemplo à máquina pública, deve proporcionar aos servidores colaboradores, asas. Asas para a imaginação. Forçando a exegese no texto, muitas instituições públicas por todo o país, creem reinventar a roda com um modelo excêntrico em gestão de pessoas, atribuindo a subordinados apenas atividades-meio, em detrimento da capacidade de contribuição que corroboraria à eficiência e eficácia dos seus fins. Não há distinção (e nem é propósito aqui) de definição do que é ou não atribuição compatível à titulação e/ou cargo. A referência é quanto a algo que vislumbra a competência pessoal passível da legalidade dentro de cada limite especificado. Dito isto, não raro, coordenações ou similares guiadas por mentes limitadas, perdem talentos imbuindo servidores altamente capazes com tarefas menores (também não refere-se a desvio de função), quando o país carece de mão de obra qualificada e necessita urgente acelerar passos na direção do desenvolvimento tecnológico e científico. E dentro da instância que ancora “educação pública gratuita e de qualidade” ...que falar sobre esses problemas? Aliás, é bem nessa instância que houve a inspiração de escrever esse artigo.

Todos os problemas, ou parte deles, poderiam ser convertidos em matéria prima para o gerenciamento da autonomia e autoestima de técnicos especializados a serviço do poder público, mas o que se vê quase generalizado são servidores não contentes. Medidas contrárias a essas ideias talvez sejam sugestivas ao leitor que contempla à distância o problema. Exemplo: não seria menos complexo se os não contentes redimissem da crítica e se auto eximissem das tarefas cujas atribuições são subjetivamente carregadas ocultamente de conteúdos maliciosos, por exemplo, algo que configure assédio moral? Em outras palavras, não é mais fácil exonerarem? A premissa é que os enfrentamentos devem ser legitimados por critérios de direito e de prerrogativas de Lei. Logo, a esfera da discussão não passa pela omissão ou vacância, antes, pela reivindicação do que se faz jus, inclusive via méritos judiciais, se necessário.

Administradores mal preparados, particularmente escalões menores da própria Gestão, quando coisificam para si a coisa pública, manipula pessoas, danificam famílias, assassinam talentos, tudo em função do ego e do bel prazer, travestido de apreço ao Princípio da Legalidade, mas na prática, pouco se questiona a suspeição do Princípio da Isonomia, uma vez que é verdadeiro a existência de critérios diferentes para pessoas diferentes, entendendo com isso que falta resignação ajuizada à ordem, ao bom senso, à equidade e à virtude, forjando o caráter original da razão e da ética. Em exercício do cargo, esse perfil de atribuição de Direção trás o não como primeira alternativa ao impulso inovador do servidor. O não, nesse contexto, aumenta a excitação na inquietante jornada pelo processo empreendido ou pela ideia que jamais deixa paralisar a mente humana que é ativa em buscas que promovam mudanças.

Nolan Bushnell, criador do ATARI1, um dos maiores representantes do Empreendedorismo prático, diz em entrevista que sua academia de empreendedorismo é um verdadeiro 'celeiro de mentes' onde mentores inspiradores criarão um ambiente onde os participantes serão não estudantes, mas aprendizes" explicou. Daremos a nossos aprendizes a oportunidade de realizarem suas ideias, a The School of Life (TSOL).

E nós, com nossas instituições públicas de ensino, o que fazemos com o celeiro de mentes brilhantes? Há um contrassenso quando coordenações excêntricas inibem a criatividade de empregados públicos, usam da máquina de gestão para sucumbirem movimentos independentes, quando deveria ser a mediadora da criatividade e dos insigths da experiência e do saber. Essa discussão não deve ser entendida por universalizada. Há situações pontuais, mas estatisticamente não é pouco, o que legitima o intento de escrever sobre. Na medida em que discussões dessa envergadura forem ventiladas, no mínimo, abrir-se-á espaço ao debate e ao contraditório.

Para encerrar, Soren Kierkegaard, Filósofo e Teólogo dinamarquês, disse: A vida tem de ser vivida para frente, mas só pode ser entendida para trás. Levará um tempo, mas há de vir de modo que a promoção da liberdade, da arte e da criação vigore em qualquer meio, público ou privado, e a solidariedade entre os pares constitua espelho que reflita o agora. Mesmo esses percalços, são partes de um processo, não o fim em si mesmo. Nesse novo tempo não mais haverá espaço para a excentricidade na coisa pública.

A todos, um afetuoso abraço,

Wilson Barbosa

-Filósofo Clínico
-Esp. em Tecnologias na Educação
-Técnico em Assuntos Educacionais
          
Pró-Reitoria de Ensino
EAD - Educação a Distância
IFTO - Instituto Federal do Tocantins - Palmas
 




1Criador dos jogos ATARI – Empresa de produtos eletrônicos e jogos de videogame com o mesmo nome.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Por Wilson Barbosa


O PERCEPCIONAR E OS MODOS DE APREENDER O MUNDO NO MEU INTELECTO

Lições Iniciais de Filosofia Clínica na Educação

É curioso observar as circunstâncias que se nos apresentam e as divergências de olhares quanto a percepção dos fatos em si; sobre a minha leitura e a leitura do outro quanto ao mundo, tal o conhecemos. Aquilo que me parece estranho e escandaloso pode bem ser as delícias dos olhos de uma outra pessoa; a menina preciosa para os olhos de alguém. O que é desabrido para mim, pode ser exatamente aquilo que tem delicadeza, efeito, sentido para a vida de outra pessoa. Aquilo em que acredito, que eu aprendo, admiro, pode ser tudo nessa vida, pode ter um valor imensurável ou nenhum valor, e isso é assim para você também, a depender do modo como é a Representação de mundo para você. Em geral, essa é uma maneira da alma tentar entender a natureza sensível das coisas, de tantas coisas, coisas que se fala, coisas que se sente, coisas que tocamos.

As divergências e antagonismos previstos não acontecem apenas nas coisas que eu observo ou posso observar, mas nas coisas que ainda não se apresentaram a mim. E quais as coisas que ainda não se apresentaram a mim? - tudo que ainda está no devir, no por vir e que tocará a minha percepção e, nessa acolhida, serão elucidadas. Coisas difíceis de entender! coisas que tocará a minha percepção e eu as apreenderei, seria isso? Ou seria o contrário, coisas que a minha percepção tocará para que elas verdadeiramente se apresentem a mim e só aí tomarei posse delas? Vamos adiante nas interpelações. É o sujeito que vai até o objeto, ou o objeto é que se dá a conhecer ao sujeito? Por enquanto, sem resposta, mas de um modo ou de outro, as coisas que aprenderei serão deitadas sob o meu intelecto seguindo as premissas da minha episteme particular, isso é inegociável. Episteme? Palavra rebuscada para se falar em aprender!

Considerando todas essas coisas em Prosa Poética, na primeira ideia ou parágrafo, não importa, convergimos à tempos tão remotos, mais ou menos lá pelos arcaicos anos 1800, faz tempo. Nessa época havia um homem, um filósofo que se chamava Arthur Shoppenhauer. Ele dizia que são o corpo e o sentimento que permitem alcançar e dizer o sentido das coisas, de qualquer coisa, o que para ele se chama vontade. Algo que faz explicar quando uma coisa é boa, feio, amável, áspero, inteligível à pessoa. Mas observe o contexto, é assim para Shoppenhauer. E se é assim específico para ele, significa com clareza que pode não ser para o sujeito que está bem aí na mesa ao lado, não é mesmo? E porque haveria de ser. Fácil de compreender, não é? Curioso pensar, mas existe uma terceira opção para o entendimento do problema, e que se apresenta como resposta omitida a bem pouco. Essa alternativa se mostra timidamente, mas com força para sacudir o nosso entendimento: É a interação. Isso mesmo, talvez eu não vá até o objeto e nem este venha até mim, talvez se encontrem em um meio termo. Algo surreal, quase metafísico, ironicamente falando. Na união do sujeito x objeto pode haver um microssegundo mágico que só a sensibilidade da alma saboreia, e ao saboreá-la resplandece a luz do saber. Nossa!... isso poderia mesmo acontecer assim? Será?

Na segunda ideia, e também já falando em uma outra coisa, o que mexe de fato com a minha percepção, uma vez que inferimos sobre percepção, é sobre os modos de aprendizado variados do ser humano. Bacana dizer sobre isso, porque abre os sentidos para pensar no modo como os próprios sentidos adquirem o material do pensamento. Entendeu não? “o modo como os sentidos experimenta e experiencia as coisas”. Já parou para percepcionar isso? Quase coisas para rir, não é? Quem é que pára para pensar no próprio pensamento. Maluquices? Talvez! Locke e outra meia dúzia de sujeitos filósofos debruçavam horas, dias e até anos a fio atrás de respostas para essas coisas. Coisas que até soam sem razão, mas coisas que mesmo em nossos dias o mundo não tem respostas à algumas das muitas proposições colocadas por esses homens!

O Filósofo John Locke era um sujeito que afirmava que todas as nossas ideias tinham origem no que era percebido pelos sentidos. Mas... para que servia isso? Para ele, através da percepção um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. Consiste em aquisição, interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos. Seria isso que acontece normalmente na escola e nem nos damos conta? Será que essas coisas podem ser úteis para ensinar as crianças e jovens desde os meandros das ciências até a poesia da descoberta da vida? E para a vida de quem já tá pra lá da escola, presta para alguma coisa?

Bem, olhemos as crianças. Quando o mundo se apresenta a ela nos seus mais variados contornos e cores, a criança olha, interage, toca, sente e experiencia. Por qual dessas percepções ela realmente aprende e apreende o objeto? Por qual desses ou outros mecanismos é seguro afirmar que ela conseguirá tomar ciência dos fatos? Você sabe leitor? Arrisca dizer? Há um caminho ou há caminhos? Há a polivalência de um modo em detrimento a outro, ou equivalem-se em significado, importância e sentido para a pessoa? O que posso dizer é que é possível fazer uma ponte a partir dessa pergunta a algo substancialmente provocante: Uma criança de dois anos vê o fogo exaurindo a cera de uma vela. Esse fogo apresenta cores vibrantes, coloridas, moldáveis, lindas, remonta um belo mosaico, um arco-íris. Sua tendência natural é tocá-la, tomar para si, e se o fizer, quanto as consequências não precisamos filosofar. A Filosofia será necessária a partir do momento em que haja mais capacidade de abstração, a então pensarmos que temos o controle absoluto do conhecimento, das coisas e, com ousadia, poderia dizer até mesmo pensarmos que temos total controle da nossa vida - o que não equivale a dizer que não se deva valorar o planejamento de vida e a compreensão da maneira como funcionamos existencialmente. A Filosofia será precisa quando pensarmos que deciframos as ciências físicas e humanas em toda a sua extensão e segredos; quando perdermos as referências e a humanidade diante da força do caos, do indecifrável, do intangível. A perda dessa humanidade é no sentido em que Immanoel Kant dizia que não temos capacidades cognoscitivas para acessar o inefável, advertindo-nos sobre os limites da razão. Se pensarmos que somos semideuses, pensamos errado porque não somos, ao mesmo tempo, não seremos também humanos demasiadamente humanos, na acepção nietzschiana . Enfim, o que sobra? Desde que haja incômodo, há jeito para essa questão! Há saídas, muitas vezes à custa de muito trabalho e, em muitos casos, há a necessidade de ajuda com psicoterapia clínico-filosófica.

É bom saber quais são as dimensões possíveis para que os sentidos tomem nota daquilo que passa por mim em essência, seja na manipulação da droga mais poderosa ou na observação da delicada metamorfose pela qual a lagarta vira borboleta. Sabendo um pouco mais dessas dimensões cognitivas, mesmo àqueles que já estão pra lá da escola, pode levar mais cor à vida e torná-la mais leve.

Agora vamos falar do aprendizado sem rodeios. Acreditem, eu posso chegar ao limite possível do conhecimento por meio do domínio, força, propensão das minhas Paixões Dominantes. Posso chegar através das minhas Emoções, através das coisas que eu acredito, da minha Fé, das minhas Abstrações, do Corpo, da Mente e por caminhos assim quase indefinidamente, o que não tem nada a ver com a observação, experimentação e comprovação empírica exigida pelas ciências exatas. São quanto aos caminhos subjetivos a que fazemos referência. Lembra quando acima é questionado por que meio efetivamente ocorre o aprendizado? Eu posso conhecer os fenômenos por meio da observação científica, do lúdico, da arte, da estética ou de outra forma que nem há nome usual. A criança e o jovem podem ter a experiência mais linda das suas vidas através do caminho da empatia, da amizade com aqueles em quem confiam. Isso é a interseção boa, no mínimo razoável, que os aproximam e abre espaço ao saber, o que equivale a dizer que essa interseção seria o conduíte por onde filtra o seu modo pessoal, genuíno de entender, ou ainda, nada disso pode fazer sentido à pessoa. Pode ser que aprendam a iniciação das leis da física por meio do discurso do professor e memorizem tudo como se tivessem um computador na cabeça. Outras pessoas podem passar anos tentando ser exímios em determinada arte, tentando estudar cartesianamente as metodologias prontas de quaisquer coisas, quando tudo o que precisavam era questionar os porquês que estavam por detrás dos fenômenos (epistemologia), então o aprendizado se tornaria algo simples e natural. É fácil saber que dentro da palavra epistemologia, a qual tem sua origem no grego “ἐπιστήμη” aportuguesado significa desse jeito: episteme = conhecimento, Logos = estudo, assim, estudo do conhecimento ou teoria do conhecimento. muitos tipos de desdobramentos até chegar ao fim desejado.

Tem muitas alternativas e caminhos para que eu e você interaja com tudo o que nos cerca. É algo tão inusitado que algumas vezes esse caminho é a combinação de dois ou mais modos sugeridos acima. Mas o que realmente precisa ficar elucidado é que cercear a liberdade de que uma pessoa fique “amigo” de qualquer forma epistemológica em toda a sua riqueza, é assassinar génios em potencial. É deflagrar a falência do futuro; é invadir os espaços invisíveis criados por Deus e rebelar-se contra a sabedoria armazenada pelos séculos passados. A epistemologia exercida por cada pessoa é pessoa, e sufocá-la é tirar a oportunidade do ser humano conquistar o impossível. Fato que é verossímil para qualquer pessoa: alunos, filhos, pais, empresários, funcionários, artistas, médicos, intelectuais, os quais livres, frutificam dez por um sua criatividade. Entenda, epistemologia e seus desdobramentos é apenas uma entre tantas e tantas outras possibilidades para a aquisição do conhecimento.

Talvez a história do sujeito tocar o objeto ou o objeto tocar a percepção da pessoa, ou ambos se encontrarem, talvez todo esse assunto de existir diversas maneiras de conhecer as coisas seja algo muito estranho a você, ou talvez você tenha provas quase inequívocas de que não é assim e que tudo isso se processe e funcione de uma outra maneira. Pode ser! Mas também pode ser que seja exatamente as suas verdades e maneiras epistemológicas subjetivas que faça com que você leia, enxergue e acredite que as coisas são assim como você as enxerga, incluindo desacreditar nessa abordagem. Mas é talvez e só talvez. Mas talvez também isso que eu acabo de dizer seja o que ocorre subjetivamente comigo e não com você. Nossa, que mistura para bolo!!! E agora? É a minha ou a sua subjetividade que impera? Mais do que isso... do que mesmo eu realmente estou falando? Vou tentar me explicar. Talvez você não abra a percepção a essas possibilidades em função dos seus Princípios de Verdade, quem sabe! Quem sabe seja por causa dos seus Pré-Juízos. Sabe o que são essas coisas, 'Princípios de Verdade', 'Pré-Juízos' escritos bem assim desse jeito? Mas também talvez eles sejam meus e não seus, talvez por isso você não saiba. Não tanto quanto as nomenclaturas, mas quanto aos significados.

Esses questionamentos finais dão margem para especular sobre outros desdobramentos que não dá para explicar agora, umas tais coisas chamadas Estrutura de Pensamento e Submodos Informais. Que tal falarmos um pouco mais sobre tudo isso num outro dia e termos uma percepção ainda maior?

* Baixe gratuitamente e Leia a obra Filosofia Clínica (propedêutica) do Drº. Lúcio Packter, em: http://www.luciopackter.com.br/ ou http://anfic.org/

Como sempre, um afetuoso abraço!
 
Wilson Barbosa
Filósofo Clínico
Técnico em Assuntos Educacionais
IFTO - Instituto Federal do Tocantins
Campus Porto Nacional - TO
 
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